A catequese como encontro pessoal com Jesus Cristo
No final do mês de maio o clero de Sinop esteve reunido para fazer uns dias de formação. O assunto escolhido foi a catequese, e foi convidado o Padre Leomar Brustolin para aprofundar os temas pertinentes.
Primeiramente, Padre Leomar contextualizou alguns problemas que são concernentes a cultura pós-moderna em que vivemos e que afetam diretamente a vivência da fé. Após, ele expôs algumas mudanças que a catequese deve sofrer para conseguir dar uma resposta mais precisa às necessidades atuais, e cumprir melhor a sua função, que é introduzir o catequizando no processo de relação com a Pessoa de Jesus Cristo.
Segundo Pe. Leomar, vivemos na cultura pós-moderna que tende a se secularizar e se emancipar do cristianismo. Isto é, a sociedade atual, deixou de ser guiada por valores cristãos e reduziu a religião à esfera das escolhas pessoais. Esse processo de secularização já é antigo, mas nas últimas décadas acentuou-se e, cada vez mais, os cristãos tornam-se minorias.
A pós-modernidade trouxe muitos benefícios para o mundo. Não podemos negar o grande avanço tecnológico que facilitou e curou a vida de muitas pessoas. Mas também trouxe muitas fragilidades:
* Não há mais grandes ideais. Isso se refere tanto ao âmbito pessoal, como também, e principalmente, ao social. Vive-se a eternização do presente. Não se procura mais os fins últimos da existência. A meta é: “curtir” o aqui e agora; fazer novas experiências.
* No âmbito econômico, o capitalismo incentiva o consumo. Tudo vira mercadoria.
Há uma descrença geral nas instituições sociais (Estado, política, Igreja). O povo está sedento de Deus, mas não quer assumir a instituição Igreja. Quando se fala em assumir responsabilidades numa comunidade de fé, as pessoas desaparecem.
A prova de que a busca por Deus não cessou, é que cada dia multiplicam-se novas espiritualidades que, na maioria das vezes, são fragmentadas e acabam sendo adaptações para servir as necessidades individuais. Na cultura do consumo até Deus torna-se mercadoria. Basta olharmos a proliferação de Igrejas pentecostais.
* Os laços afetivos estão cada vez mais fragilizados. Nas grandes cidades vive-se como uma multidão de anônimos: ninguém se conhece! Os condomínios e apartamentos desvinculam as pessoas. Tomando o exemplo da informática, as relações pessoais estão se tornando conexões, isto é, os vínculos são cada vez mais frágeis.
* A cultura do consumo apóia que as pessoas se tratem como objeto de posse, como mercadorias, quebrando com as relações profundas. Cresce a intolerância nos relacionamentos.
Como responder a esses problemas? Rhaner, um dos maiores teólogos do século passado, profetizou que o cristão do terceiro milênio será místico ou não será cristão. O que ele quis dizer? Que para perseverar na fé cristã diante de um mundo com várias propostas sedutoras, há só uma forma: fazendo uma experiência profunda e pessoal de Jesus Cristo crucificado/ressuscitado.
A partir dessa afirmação fica evidente que a catequese ganha um valor muito grande, pois é nela que deve ser iniciado esse processo de relação com Jesus. Mas para isso é preciso que a catequese consiga superar algumas estruturas que não auxiliam esse processo:
* De uma catequese que privilegia a instrução da fé, deve-se passar a ser um ambiente de iniciação dos catequizandos no mistério de Jesus.
* Isso implica que o catequista deve deixar de ter a postura de um professor e passar a ser visto como um irmão mais maduro na fé. Uma pessoa que já fez esse encontro pessoal com Jesus e que ainda o está aprofundando.
* O local da catequese muitas vezes é parecido com salas de aula. Isso dificulta que a criança consiga assimilar a diferença entre catequese e aula formal.
* Os conteúdos da catequese devem ultrapassar o puro nível do saber intelectual, onde se decora, e passar a ser uma experiência a ser vivida.
Resumindo.... A catequese deve ser querigmática (Documento de Aparecida, n. 289), isto é, deve fundar-se no anúncio da pessoa de Jesus Cristo Crucificado/Ressuscitado. Esse anúncio deve transformar as pessoas, assim como acontecia nas primeiras comunidades cristãs. O conteúdo do querigma contém: O amor de Deus Pai criador pela humanidade; a rejeição desse amor por parte do homem: o pecado; e a ação salvadora e misericordiosa de Deus em Jesus.
Vivemos uma mudança de época cultural. Por isso há muitas inquietações e poucas respostas claras para pautar a vida. Diante da insegurança atual da sociedade a Igreja continua professando que “só no mistério de Jesus se esclarece verdadeiramente o mistério do homem.” (cf. Gaudium et spes, n.22)
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